sábado, 29 de setembro de 2007

Pois, eu também, NUNCA MAIS...

"Nunca mais

A tua face será pura, limpa e viva

Nem o teu andar como onda fugitiva

Se poderá nos passos do tempo tecer

E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.

A luz da tarde mostra-me os destroços

Do teu ser. Em breve a podridão

Beberá os teus olhos e os teus ossos

Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem possa viver

Sempre.

Porque eu amei como se fossem eternos

A glória, a luz e o brilho do teu ser,

Amei-te em verdade e transparência

E nem sequer me resta a tua ausência,

És um rosto de nojo e negação

E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei Senhor que possa morrer."


Sophia de Mello Breyner

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