terça-feira, 10 de julho de 2007

Deixa-me ouvir o que não ouço...
Não é a brisa ou o arvoredo;
É outra coisa intercalada...
É qualquer coisa que não posso
Ouvir senão em segredo,
E que talvez não seja nada...

Deixa-me ouvir...Não fales alto!
Um momento... Depois o amor,
Se quiseres... Agora cala!
Ténue, longínquo sobressalto
Que substitui a dor,
Que inquieta e embala...

O quê? Só a brisa entre a folhagem?
Talvez... Só o canto pressentido?
Não sei, mas custa amar depois...
Sim, torna em mim, e a paisagem
E a verdadeira brisa, ruído...
Vejo-te, somos dois...

(Poema de Fernando Pessoa)

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